Foto: Arquivo Nacional.
Por Mauro Cordeiro.
Ismael Silva é um dos grandes construtores da cultura nacional. Um intelectual do mais alto gabarito e estirpe. Gênio da raça que nos mostra que em terras tupiniquins o que há de mais potente e genuíno emerge do povo.
Nascido em Niterói em 1905, sua vida foi marcada pelos percalços e as dificuldades de toda ordem a que estavam submetidos os negros no pós-abolição. Órfão de pai, caçula entre 5 irmãos, ainda menino se muda para o Rio e se cria entre os bairros do Rio Cumprido, do Catumbi e do Estácio de Sá. Frequentador assíduo, desde a adolescência, das rodas de samba da boêmia carioca, destaca-se como musicista. É na vivencia do samba e da noite, na relação com os sambistas da região do Estácio que se forma menestrel e encontra sua turma: Baiaco, Brancura, Mano Edgar, Mano Rubens, Nilton Bastos, entre outros.
Esta turma de bambas revoluciona a forma de se fazer samba. Até então o que existia era o samba amaxixado que tem na gravação de “Pelo telefone” o seu grande marco, e a partir do Estácio surge uma nova forma de samba, o samba batucado, conferindo tanto a sonoridade quanto o instrumental para o novo tipo de samba, mais adequado ao ritmo da vida da cidade moderna e emergente. Algumas de suas características são o andamento mais rápido e a ênfase na percussão através, por exemplo, da introdução do surdo além de pandeiros, tamborins e reco-reco. Nas ondas do rádio, esta musicalidade se espalha pelo país conquistando mentes e corações pela sua originalidade.
Esta nova sonoridade está também diretamente associada a invenção de uma forma de brincar o carnaval: a escola de samba. O samba batucado, moderno, do Estácio, permitia e facilitava a exibição e evolução em cortejo, sendo o que Ismael chamava de “samba de sambar”, favorecendo os desfiles.
Resumindo: surgiu uma nova musicalidade como forma de oferecer melhores condições para exibição de uma organização carnavalesca, as escolas de samba. Esta musicalidade extrapolou o morro e o carnaval e se transformou na base da música nacional.
Ismael é certamente um dos grandes artificies da nossa brasilidade. Através de suas melodias e letras, através de uma revolução da forma de se fazer e cantar samba e da invenção desta forma de associação carnavalesca, este bamba contribuiu decisivamente para própria transformação e consolidação da cultura nacional. O samba foi seu dom, seu linguajar, sua ciência. E através do samba, Ismael nos brindou com seu talento e genialidade.
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